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Vermes e dentes perdidos. A Copa de 1958 e o check up dos jogadores brasileiros


Garrincha domina a bola diante do adversário sob o olhar de Zito em jogo da seleção brasileira
Garrincha foi um dos jogadores submetidos à rigorosa avalição clínica em 1958

O check up na apresentação

A história está no livro Estrela solitária – Um brasileiro chamado Garrincha, de Ruy Castro. E conta o rigor da avaliação dos convocados para a seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo de Futebol de 1958, na Suécia, onde o Brasil conquistou seu primeiro título mundial.

Era a primeira vez que um planejamento no futebol brasileiro tinha tantos detalhes. O Brasil iniciava a preparação para disputar a Copa do Mundo com a apresentação dos convocados no dia 7 de abril do mesmo ano, para um período de quarenta dias de treinamento e amistosos.

A “comissão técnica” era composta pelo treinador Vicente Feola, o preparador físico Paulo Amaral, o supervisor Carlos Nascimento e o Dr. Hilton Gosling. Os 33 jogadores convocados foram submetidos a exames médicos rigorosos. Um check up nunca visto antes no futebol brasileiro. Durante uma semana eles foram virados pelo avesso por clínicos, traumatologistas, neurologistas, radiologistas, cardiologistas, dentistas, oftalmos, otorrinos e até calistas.



Garrincha, a "Gina Lollobrigida"

Os exames de Garrincha paralisaram o serviço da Santa Casa: os médicos saiam de todas as salas para admirar suas pernas. “Estou me sentindo a Lollobrigida...”, ele disse, referindo-se à atriz italiana Gina Lollobrigida, dona de um dos imortais pares de perna do cinema. Os exames revelaram que, apesar de grotescamente valgo e varo, Garrincha pisava com uma perfeição de um anjo.


Uma montanha de material produzido pelos jogadores foi enviada aos laboratórios para análise e o resultado assustou os homens da CBD (Confederação Brasileira de Desportos). A maioria tinha vermes e lombrigas para dar e vender; muitos apresentavam anemia; um deles, sífilis. Havia amígdalas implorando para ser extraídas e jogadores com problemas crônicos de digestão e circulação.


Os dentes perdidos


Mas o pior era o estado dentário de quase todos: Oreco, lateral esquerdo do Corinthians, teve que arrancar sete dentes; Gilmar, galã e goleiro do Corinthians, quatro; Pepe, ponta-esquerda do Santos, três, além de passar por uma cirurgia das gengivas; o próprio Garrincha deu adeus a mais um dente – já perdera quase a metade do teclado superior esquerdo.


Entre os 33 jogadores, havia 470 dentes com problemas – uma média de quase quinze por jogador! O total de extrações chegou a 32, perfazendo uma dentadura completa. A CBD não estava preocupada com o sorriso bonito deles nas fotografias, mas com os focos infecciosos que iam doer na Europa.


Para a seleção considerada até hoje uma das melhores do mundo, o tratamento realizado deve ter tido sua parcela de contribuição. Atualmente dizemos que a soma dos detalhes fazem a diferença final no esporte de rendimento.

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